sábado, 17 de outubro de 2015

O Nosso Inimigo



   A velha rata, que vivia no bosque, mandou o filho em busca de comida; recomendou-lhe,
porém, que se guardasse do inimigo. O ratinho, na primeira curva do caminho esbarrou,
de repente, com um galo; voltou correndo ao pé da mãe, transido de susto, e descreveu o
inimigo como um bicho soberbo, de crista arrogante e vermelha.
— Não é esse o nosso inimigo — sentenciou a rata.
E ordenou ao filho que saísse outra vez. O segundo encontro do ratinho foi com um
peru, que o deixou meio morto de pavor.
— Minha mãe — lamuriou ele, arquejando —, vi um demônio enorme e emproado,
de olhar terrível, pronto para matar.
— Também não é esse o nosso inimigo — tranquilizou-o a mãe, com docilidade
comovida. — Nosso inimigo caminha silencioso, de cabeça baixa como uma criatura
muito humilde, é macio, discreto, de aparência amável, e deixa a impressão de ser
inofensivo e muito bondoso. Se topares com ele, toma cuidado!
Fujamos, pois, desse perigoso inimigo de aparência amável, que se finge solícito e
prestativo, e que no entanto só deseja nossa ruína e nossa perdição.


Esta curiosa fábula é atribuída a um hassid apelidado Kobriner. Foi incluída no capítulo “Doutrinas e histórias hassídicas” do livro Sabedoria de Israel, de Lewis Browne, trad. de Marina Guaspari.

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