segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Deus é ladrão?


Conta a lenda que Adriano, o temido imperador, mandou certa vez viesse à sua presença o sábio Gamaliel e, com o intuito de confundi-lo diante da corte, interpelou-o desta forma:
— Dize-me, ó judeu, aquele que rouba é ou não é um ladrão?
— Sim — concordou Rabi Gamaliel. — Não há como negar a evidência: aquele que rouba é ladrão.
Ouvida essa resposta, volveu o romano com rispidez:
— Então o teu Deus é um ladrão, um trapaceiro, pois segundo ensina o teu Livro Santo, Deus fez dormir Adão e, durante o sono, furtou-lhe uma costela.
Nesse momento a jovem Raquel, filha do rabi, que ouvira o diálogo oculta atrás de um reposteiro, surgiu de improviso na sala, e, acercando-se do trono de César, implorou aflita:
— Senhor! Venho pedir justiça! Fui roubada! Miseravelmente roubada!
— Como foi isso? — indagou surpreso o soberano.
— Entrou um ladrão em minha casa, durante a noite, e furtou-me pequeno cântaro de barro. E o trapaceiro deixou, no lugar, precioso vaso de ouro, cheio de rubis e diamantes!
Peço justiça!
— Mas minha filha — ponderou o imperador, com malicioso sorrir —, quem me dera um ladrão assim, todas as noites, assaltando os meus aposentos e levando tudo o que é meu! Esse homem não agiu como um ladrão, mas sim como um benfeitor!
Ao ouvir tais palavras, prorrompeu com altivez a filha de Gamaliel:
— Como queres, então, ó César, atirar sobre o nosso Deus, sobre o Deus dos Judeus, o libelo de ladrão? Lembra-te de que ele furtou de Adão uma costela, e deixou, em troca, uma linda e dedicada esposa, ou seja um preciosa joia.

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