quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Lição da raposa.

Uma raposa se pusera a namorar avidamente uma vinha tão bem cercada que não havia brecha por onde entrasse. Deu voltas e mais voltas, até que topou com um resquício da cerca entre os moirões. Lança-se por ele, impetuosamente, mas era tão estreito que mal pôde insinuar a cabeça. Esforça-se daqui, tenta dali, mas tudo em vão.
Veio-lhe, então, à ideia um plano singular: “Se eu pudesse”, monologava ela, “emagrecer bastante passaria por esta brecha.” Resolvida a vencer a prova, submeteu se a um estranho teor de vida: ficou três dias sem provar alimento, e pôs-se tão fina e magrinha que mais parecia um palito. Toda ancha com o sucesso, esgueira-se pelo delgado vão e entra radiante na vinha. Ali pôde pagar-se de tudo quanto sofrera e passou alguns dias na mais regalada abundância.
Chegado o tempo de sair, receosa dos donos do vinhedo que não podiam tardar, corre à brecha por onde entrara e tenta meter-se por ela. Aconteceu, porém, que a infortunada, naqueles poucos dias de rega-bofe, engordara tanto que não mais cabia ali.

Mais triste do que um mocho, desiste do intento e resolve repetir a provação por que passara, pondo-se de novo em rigoroso jejum até que, novamente magra como um esqueleto, lhe foi possível safar-se pelo agulheiro. Estava, porém, tão fraca e debilitada que parecia um cadáver.
Livre daquele cativeiro olhou melancolicamente para a vinha e disse-lhe: “Adeus, não me apanharás mais. És sedutora e deliciosa. Tens, em abundância, frutos saborosos, mas que importa? De ti saio, como entrei.”



Assim o homem em relação aos prazeres efêmeros da vida terrena.

Ensinava o sábio Rabi Meir: O homem quando nasce tem os braços estendidos para frente, como se dissesse: “É meu o mundo. Todo mundo é meu!” Quando morre, os traz ao longo do corpo, como a prevenir os que se aferram aos bens materiais: “Nada levo deste mundo. Deixo da vida o que a vida me deu!”

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